A importância do parto natural

Recebi esse maravilhoso texto numa lista de discussão da qual participo e logo solicitei autorização para publicar aqui.
É lindissimo e perfeito! Tudo o que eu penso sobre o parto natural, mas nunca consegui traduzir em palavras tão certeiras e diretas.
Obrigada Marina pela gentileza!



por Marina Ferreira
Fiquei pensando em porque, depois de dar a luz, percebi ainda mais a importância do parto natural. Para o bebê é mais óbvio, para atenuar o grande trauma que é o nascimento, e deixá-lo vir ao mundo no tempo e da forma que ele quiser e conseguir.

Mas e para a mãe?

Na minha opinião, tornar-se mãe é um processo brusco. Ele não ocorre durante a gravidez, enquanto o bebê é um ser abstrato. Ele ocorre bruscamente quando o bebê vem para o seu colo e vc tem que lidar tanto com as grandes necessidades e desconfortos dele (sem saber como agir), quanto com a intensidade absurda dos seus sentimentos, e talvez com a sensação de ser incapaz de suprir totalmente aquele ser tão frágil.

Consequentemente vem a tristeza profunda de se sentir incapaz e de estar vendo e fazendo aquele pequeno e delicado ser sofrer.

Além de tudo, ter que lidar repentinamente com as visitas inoportunas que teimam que esta é uma ótima hora para te visitar e, pior, para dar um monte de palpites e fazer um monte de perguntas é a parte invasiva de todo o processo, terrível. Isto é se tornar mãe no mundo moderno. E este é o último momento para lidar com invasões. Quem puder evitar, evite.

Lidar com todas estas sensações e sentimentos ao mesmo tempo é muito, muito forte. Algo para mim inimaginável. E vem a tona apenas sua fragilidade. Vc se sente frágil, frágil, frágil. (pelo menos as mães de primeira viagem, acho, pois escrevo de acordo com a minha recente experiência).

O parto natural, para mim, trouxe as sensações mais intensas e profundas que já vivi em toda a minha vida. Ter que virar mãe tão de repente pode ser um pouco mais fácil depois deste momento tão forte que se vive no parto. Como se a lembrança mental e física da intensidade do parto desse alguma força para a quantidade de coisas que vem logo depois.

O parto transforma. De alguma forma, e de muitas formas, transforma a mulher para sempre.

Hoje, racionalizando sobre o irracionalizável, percebo que enquanto eu vivi o expulsivo meu corpo e minha mente estavam finalmente juntos, tão juntos que se tornaram uma coisa só, e isto foi só durante o expulsivo. Foram os únicos 40 minutos ou 1 hora da miha vida inteira que eu não agi como minha mente desejava, ou como a sociedade pressionava, mas APENAS E SÓ como meu corpo precisava.

Foi muito selvagem, realmente. Urrar não é cabível na nossa sociedade, e ter esta oportunidade é incrível e indescritível. Deve ser por isto que as mães que passam por isto dizem que parir vicia. Porque dói, dói, dói no fundo da alma, mas é algo tão necessário que é a única coisa que parece verdadeira. É muito bom poder realmente sentir o que é satisfazer a necessidade do seu corpo no parir. O urro totalmente conectado com o bebê, o urro empurra o bebê e o bebê empurra o urro. Nenhum dos dois poderiam agir sozinhos. Parece que era o bebê urrando, e não eu. Um alívio sem fim, para todo o sempre. Receber ser filho nos braços depois de passar por tudo isto é, com certeza, a coisa mais linda que pode acontecer na vida de alguém.

Depois de tentar me expressar com este monte de palavras, percebo que não existem palavras para descrever o que é parir. Apenas concluo que o parto contém as sensações mais fortes que se vive em toda uma vida, e ser mãe contém os sentimentos mais fortes que se sente em toda uma vida. Por isto o parto e a mãe tem que se conhecer.

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